Essa moça é de fino trato..

Ela tem essa mania de andar pela casa e procurar coisas que não encontra, de acender a luz da varanda, de dar uma olhada lá fora e se sentar na poltrona que recobriu com um pano mais alegre e observar o vaso de flor em cima da mesinha de madeira que decora o ambiente simples.
Por vezes ela não percebe a hora e sente vontade de fazer um café em meio à madrugada e sente como se a noite fosse uma criança pronta pra trazer a ela lembranças de uma infância que já passou, mas não a deixou despercebida.
Ela olha os quadros, sente que precisa de algumas mudanças, que a grana anda meio curta, mas que a paciência tem se mostrado superior aos desesperos momentâneos que a acometem entre os dias.
Ela vai até o quarto veste algo mais leve e descalça, pisa no chão como quem quer se refrescar de alguma coisa, como se quisesse sentir que o que corre nas veias é algo mais intenso do que pequenos acidentes, pequenas avarias na alma.
Ela abre aquele livro de cabeceira, volta pra sala, liga a TV., e tenta se concentrar em tudo ao mesmo tempo. Na verdade ela nem sabe onde anda a cabeça, o coração o seu começo.
Ela anda precisando de sossego, silêncio, sem querer confundir mais ainda o que precisaria separar por sentimentos. Dispersa,
nem repara na confusão mental que cria ao se achar autossuficiente.
Há nela algo que não dá pra entender bem, há nela uma coisa ao mesmo tempo tímida e irresistível, meio visceral, algo que lhe toma e a faz ser alguém tão encantadora quanto um por de sol de tirar o folego quando está se despedindo antes de deixar o anoitecer acontecer.
Ela chama a atenção por sua inteligência por sua impulsividade quase aflorada quando não pensa e sai logo dizendo que sente.
Muitas vezes ela retorna aos prantos e se condena por coisas que não queria sentir.
Ela chora, ela sofre como se fosse seu último suspiro de vida. Mas ela ama, ama com a coragem de quem não teme o que vem pela frente.
O mundo por vezes pesa, mas ela dança e se sente livre em meio ao caos do seu desarrumado em meio ao caos do coração que mesmo assim ainda se permite um perfume e um tempo mais firme.
Acho que ela merece tanta coisa boa, que não poderia enumerar, mas poderia pedir pra que essa moça tenha o amor que ela merece, tenha aquilo que a encante pelo resto dos seus dias.
Ela tem jeito de poesia na beira da janela, tem som de passarinho quando canta.
Tantas afrontas a separaram, tantas pontes ela atravessou só pra poder chegar do outro lado e se encontrar com os afetos que não foram restritos, aos aconchegos que souberam lhe dar paz.
De repente ela parou só pra sentir isso: O amor correndo nas veias, as passagens de Deus e a sensação de que tudo pode mudar.
Logo ela volta pro seu canto, agradece, faz uma prece e espera pelo novo dia, confiando mais uma vez no destino.
Essa moça é de fino trato, e com ela é preciso cuidado.
Preste bem atenção ao olhar dela.
Ele dirá o que for preciso.

Sil Guidorizzi..



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