O trem sempre passa..

Muitas vezes eu me deixei em plena rendição.
Rendição dos meus atos, rendição a Deus, rendição aos percalços que me fizeram tropeçar algumas vezes e da maneira quase sufocante de buscar ar nos momentos mais difíceis.
No fundo eu não deixo de sair de casulo e tentar. Tentar meus absurdos tentar afastar meus medos e me submeter mais as condições do solo que piso mesmo que por vezes eu queira voar.
Voar para longe, distante do olhar dos abutres, distante das palavras que feriram diante daquilo que um dia me fez feliz e ao mesmo tempo me deixou tão ausente quantos meus sonhos que se perderam em um dia qualquer onde tudo mudou meu destino.
Eu sou plena de amor, sou plena daquilo que me sustenta, fermenta e que vai aumentando na alma, feito calor que aquece e oferece o abraço que pode cuidar amparar, sustentar a leveza de algum ser.
Eu nunca fui nada do que me rotularam, eu nunca fui muito de querer interpretar as coisas, mas já fui corajosa o suficiente pra bater a porta e dar adeus sabendo que era preciso.
Tem coisas que não precisam de interpretação; só de vergonha na cara e por vezes até um pouco de indiferença e cinismo.
Porque muitas vezes eu deixei que se apoderassem demais do meu terreno e muitas vezes eu fraquejei. Fraquejei e não me envergonho disso.
Um dia eu tive, no outro, não mais.
Um dia encontrei, no outro fui procurar de novo sem saber pra quando ou pra quê tudo aquilo.
É porque eu não desisto de mim, nem de nada que possa melhorar minha alma e minha condição como ser humano.
Sinto que cresci e ao mesmo tempo me revi naquele tempo mais inocente sem pedras atiradas, sem maldade, sem preocupações.
Tempo de pé descalço de correr pela rua, de não precisar ter jogo de cintura nem de tentar apaziguar o tanto de emoção que transborda porque não deixei sair, não dei passagem. Não dei vazão.
Porque bem ou mal eu tenho uma vida pra cuidar e o tempo de Deus pra viver.
Sou real por mais que dance em meu imaginário, por mais que eu queira viver tudo dentro de um segundo.
Minha lucidez ainda me alerta, minha esperança ainda me acalma.
Não importa. Não importa a quão desumana as pessoas sejam. Não importo em qual estação eu fiquei.
O trem sempre passa e eu embarco na hora em que meu coração sentir que é preciso dar continuidade em meu viver.

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