Desculpe-me..

Desculpe-me se de repente eu abri a porta e sai sem querer saber de tudo que fez estrago em mim.
Se meu tempo que antes era todo seu passou a ser meu integralmente pra que eu pudesse voltar a minha casa e deixar de ser tão boazinha aceitando as sobras que vinham só para que eu não me sentisse assim tão em último plano, como opção de fuga ou rota de emergência.
Desculpe-me se já não sou assim tão jovem, se já não mantenho os mesmos traços se já não possuo mais aquele viço todo que um dia te fez querer segurar minha mão e ir por caminhos que a gente quis.
Só que a alma não morre, ela atravessa desertos quando é pra ser.
Mas olha, o que eu sei é que a vida dá muitas voltas e ela por vezes se desprendeu de muitas coisas para se sentir entregue aos acasos do destino para as acolhidas do coração para aquele tempo que parecia ser o melhor no momento.
Desculpe-me se a casa anda meio desarrumada se o quarto anda vazio, se o corredor parece mais largo para se atravessar até a porta de saída. Mas não se preocupe.
O café ainda me acorda me anima, o café me faz pensar em quantas vezes eu suportei o que não precisava suportar e o que amei com a força de quem não desiste do amor.
Desculpe-me se por vezes fui tempestade que tudo derruba e depois se arruma com quem espera a brisa chegar, se eu não tolero mais indiferença, se não aceito esmolas, se meu sentimento já não é tão farto, assim como ando farta de tantas coisas que já não se completam mais.
Desculpe-me, pelo empurrão que dei em mim e pela saída um pouco brusca da sua vida como quem não tem mais vontade de ficar, como quem não tem mais vontade de ceder, de remexer, de se sentir ferida pelos descasos que você me ofertou.
Agora parece que anda tudo certo mesmo no meu incerto, mas engraçado como sinto a sensação de que um peso muito grande desembarcou do peito.
Deve ser a bagagem que estava me deixando exausta e vazia de felicidade.
Talvez eu opte por novas viagens, talvez eu só me dê um tempo. Um tempo onde eu possa me colocar onde devo e restaurar as paredes internas recolocando a mobília no lugar.
Desculpe-me a afronta, mas é que eu não sinto vergonha de dizer que deixei de sentir aquilo que um dia mexeu com meus poros, meu eu e minha estrutura que abalou meu alicerce de mulher.
Estou em paz, estou como quem se despede de um ciclo que há tempos terminou e eu não percebi.
O que vejo agora é outra pessoa, a que recolheu seus cacos, traçou outro trajeto e conquistou um olhar que se mistura a outros que não conheço, mas que ao mesmo tempo traduzem meu sentir.
Desculpe-me se gosto de inteirezas, verdades, sinceridades que afloram.
A vida é isso, temporariedade, transitoriedade, início meio e fim.



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