Nada me sufoca mais do que o direito de não poder ir e vir.


Por: Sil Guidorizzi

Eu moro em frente a uma cafeteria e sorveteria. Bem na esquina de casa. É só atravessar e entrar.

Quantas e quantas vezes passo por ali, dou uma espiadinha e não entro. Da varanda do apto vejo o burburinho de gente entrando e saindo, pessoas conversando, famílias, filhos, gente que só quer se distrair um pouco e conversar.

É na porta de casa e parece que eu não tenho tempo nem para isso.

Caramba, fico pensando em que posição tenho me colocado e porque não tenho dado mais atenção aos meus desejos.

Hoje eu saí, pois, precisei resolver algumas coisas.

Entrei ali, pedi um café, me sentei em uma das cadeiras vermelhas perto do sofá estofado que acomoda várias pessoas.

O lugar é aconchegante, alegre, música ambiente ao fundo. Vários quadros decoram o lugar que se misturam ao colorido do ambiente.

Porque não. Porque sempre me esquecer.

Tomei meu café, pus as ideias no lugar, me senti longe e ao mesmo tempo mais presente na consciência de que mereço um tempo para mim.

Tudo passa muito depressa e esse ano muita coisa aconteceu. Muita reviravolta, muito lugar que tive que desocupar para me instalar aonde estou, provisoriamente.

Mas a minha mente também flutua, não importa, eu preciso andar comigo e sentir o caminho dos pés aonde tenho vontade de ficar.

Então, que eu me olhe com mais cuidado e me aprecie, mesmo que ninguém perceba meu andar por vezes apressado, ou pelo olhar que busca e também sente as desigualdades que se mostram espalhadas por aí.

Nada me sufoca mais do que o direito de não poder ir e vir.

E eu não consigo ser de outro jeito, senão o que transpiro por dentro. Mesmo que seja a sós, mesmo que seja ao lado de alguém que me olhe sem julgamento.

Eu tive que passar por muita coisa para me aceitar mais, para reaprender o caminho da vivência espiritual e não aceito que me prensem em qualquer lugar.

Aprendi a me respeitar e a me dar o lugar que me cabe com a honestidade de quem sabe que guerreou e muitas vezes descansou em solo tranquilo.

Saí sem culpa, fiz o que tive que fazer, voltei sabendo das responsabilidades.

O que é fato é que elas estão à minha frente. Mas eu também mereço descanso, silêncio, distanciamento quando tudo parece implodir.

Na luz da prece, na gratidão ao meu bom Deus, vou seguindo.

Refaço-me e sigo. Eu dependo de mim.

 

 

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