Eu não sei
se fiquei muito exigente; a verdade é que aqui dentro já não cabe tanto forçar
de barra, tanto desgaste sem fundamento.
Depois que
comecei a fazer as pazes com minha vida, comecei a entender muita coisa,
comecei a me respeitar como gente, parei de viver coisas sem futuro, parei de
me olhar com ares de impiedade, parei de me achar insuficiente, parei de
sabotar o que sou.
Eu não sei
se fiquei mais sábia, mas sei que já não tolero muita coisa.
Já não
entrego tudo de mão beijada e nem ofereço lugar para qualquer um se chegar.
Apesar do
peso de alguns dias, sinto que dá para ser mais leve.
Acho que
deixei de ser breve para ser mais importante para mim.
Parei de me
trair, parei de me esquecer.
Ainda sigo
em frente sempre perto daquilo que me chama interiormente.
De olhos
fechados e de alma presente, sigo por caminhos mais honestos.
Viver é um
grande ritual de passagem espiritual.
É caminho de
luz para reaprender, muitas vezes, a me merecer.
E eu tenho
tido essa compreensão de vida, tenho dito a mim mesma que posso transpor muitos
muros que fecham minha mente e coração.
Eu não sei
se foi a maturidade, o cair, o levantar, o jeito meio sem graça de quem muitas
vezes se deixou tímida em um canto esperando o vendaval passar, ou a sensação
de que eu precisei tomar um porre de vergonha na cara para encarar com mais
sensatez o que vinha causando a mim mesma.
Nem sempre foi
a melhor sensação, nem sempre foi bom me sentir à deriva.
Não preciso
viver me rasgando para satisfazer o ego de ninguém.
Ou eu me
encontro ou me desencontro. Vivo de sintonia, de alguns espaçamentos; vivo sem
querer acertar sempre.
Eu não sei
do amanhã; só sei que Deus me traz para o momento presente me fazendo enxergar
o que realmente preciso ver.
E eu vejo
que ainda preciso caminhar, preciso me perdoar de muitas coisas, preciso ser
menos ansiosa com o mundo lá fora porque aqui dentro é onde tudo se move e me
rege.
Que eu me
inspire sabendo onde colocar meus abraços, onde eu sinta meus afetos como
pequenos gestos de humanidade dentro da capacidade de retribuir o que de bom
também recebo.
Sem
apelação, sem uma falsa vida, vou traçando meu destino.
O que tiver de ser será.
É nisso que
acredito.
Quem tem fé, confia!
Sil Guidorizzi
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